segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sai de Baixo Especial – Episódio 4: O Bolão do Vavá [Season Finale]

 

Sai de Baixo: “Que seja eterno enquanto duro”.

Quando a notícia do especial do Sai de Baixo começou a surgir na mídia, ainda em 2012, a primeira reação foi de descrença. Geralmente os reunions, sejam lá nos states ou aqui, são desacreditados, sobretudo quando o elenco da produção já se resolveu ou decidiu pelo cancelamento por cansaço ou desgaste. O mais curioso acerca do Sai de Baixo, é quando ele estava no ar mantinha uma audiência boa e segura, mas passou 5 anos tendo que aturar o discurso do “O Sai de Baixo era bom quando tinha a Edileuza”. O programa teve uma vida fantástica na TV, mas era só perguntar pra alguém e o que vinha primeiro era: “O programa era bom quando tinha a Edileuza”.

Ledo engano… O Sai de Baixo ficou imensamente superior em texto, estrutura e interpretação, depois da saída de Cláudia e da entrada de Márcia Cabrita. A chegada da atriz que viveu a empregada por mais tempo fez o elenco se reentender e se encontrar, e só aí a identidade transgressora foi realmente alcançada. Episódios da segunda e terceira temporadas foram verdadeiros clássicos do humor nacional e dão de mil a zero na primeira temporada, que ainda se apoiava mais em gag e não em atuação.

Quem acompanhava o programa religiosamente (como eu, que gravava tudo em VHS), sabia que a qualidade só crescia, enquanto até a imprensa continuava naquela mesma ladainha que acometeGlee nos tempos atuais: “Alguém ainda vê Sai de Baixo?”. Bastou que 11 anos se passassem desde o final, e pronto, o programa voltou a ser sacro, genial, incomparável. Porém, nada do que vimos nesses quatro episódios especiais ficou longe do que já acontecia no passado. Pelo contrário… Essa despedida, por exemplo, foi como uma grande feira de referências, um enorme balaio de conhecidas estratégias da redação do humorístico.

Antenado como poucos no que está em vigência na cultura pop do país, o Sai de Baixo ironiza com a música de abertura da novela das nove (eterna piada no twitter) e também vesteCassandra de Galinha Pintadinha. A piada com os royalties da marca não é irrelevante… Os criadores da personagem infantil sofrem com piratarias ao redor do país inteiro. E não só de CD’s e DVD’s, mas até no teatro. E se a constante manipulação de cultura pop já é parte do universo proposto pelo programa, o último episódio também se apressou em reprisar a própria mitologia.

Se as crises de riso de Aracy são mitologia involuntária, imitar uma entrega do Oscar é de praxe. Fizeram em quase todas as temporadas. Começou na season 1, no episódio Chez Cassandra, que também tinha a participação da recém-contratada global, Angélica. E esse geralmente é território fértil pra Falabella brincar de não saber falar inglês. Sempre funciona. Assim como também funciona trazer parentes nunca mencionados que são ricos e sofrerão golpes. O preferido da família é fingir que são ricos também. E já que Falabella e Aracy fizeram outros personagens nos episódios especiais passados, Márcia e Tatá ganharam o privilégio nessa última semana.

Marisa não apareceu disfarçada, mas Magda revisitou o conhecido plot em que fica inteligente ou perde a memória. O único que ganha desses dois é aquele em que ela acha que tem outra identidade, o que não deixa de ser uma espécie de memória perdida. Magda já foi gêmea de si mesma, já foi um galã de novela (homem mesmo), já foi sapatão, já foi até uma galinha (interpretação que lhe daria um Shell se fosse séria)… E tudo isso só serve pra colocar outras lupas no trabalho de Marisa, que é simplesmente soberbo. Ninguém representaria a confusão mental de Magda tentando articular raciocínio, como ela. Notem que quando ela volta como aMagda desmemoriada, ela procura imprimir detalhes novos na forma de falar, de andar, de gesticular. Incrível… Uma atriz que me comove.

Por fim, a trama que mais sustenta as bases criativas do programa é a do ganho e da perda. Mal dá pra contar as vezes em que isso aconteceu. A família do Arouche parece uma versão desproporcionada de A Caverna do Dragão: sempre parece que eles vão ficar ricos, mas no final das contas, volta tudo a ser como antes. Faz muito sentido reviver isso, tentar isso novamente, continuar esse exercício e assim, reafirmar a mágica do programa.

Havia um certo desconforto no elenco quando eles chegaram aos últimos blocos. Eles se sentiram na obrigação de fazer menções honrosas e pareceram desconcertados. Bombearam um final hesitante, com uma música mal ensaiada, inseguros, como se em busca de novas oportunidades de evitar o fim. Um fim que esses atores (como profissionais sensatos e em busca de novos desafios) têm o direito de almejar, mas que nos atordoa. O Sai de Baixo não é simplesmente um programa, é uma instituição icônica de cultura e humor. E como tudo que determina e marca uma era, se faz apto a qualquer geração, se mantém relevante em qualquer contexto, é engraçado na mesma proporção, ainda que repita todos os seus pontos de impacto.

Sai de Baixo’s World:

- Eu tive dores na barriga quando Cassandra mandou Magda se virar pra arranjar um chá e ela ficou girando em volta de si mesma. Esse tipo de sacada de humor físico não tem preço. Will & Grace era mestre nisso.

- Falabella entrando pra explicar o chá e inventando suas geografias insanas. Isso sem falar na linhagem absurda que às vezes aparecia no programa. As Baronesas Vaisefiuder e Van Schupen Pauzen são velhas conhecidas dos fãs.

- No recorte dos erros de gravação, dá pra ver Falabella morrendo de rir com Marisa brincando que ali era uma espécie de Clube da Luta (porque até o diretor entrava para zombar dos atores). Essa também era uma piada interna recorrente entre eles. Tom Cavalcanti costumava aterrorizar os convidados com ameaças de que tudo poderia acontecer quando eles entrassem em cena.

- Antes de Neide entrar, a atriz Ilana Kaplan aceitou o convite para substituir Edileuza e fez uma entrada cheia de pompas na estreia da segunda temporada. Presa demais ao texto, não deu conta. Foi demitida depois do episódio 4 daquela mesma temporada.

- Muitos esperaram uma referência ao Caquinho, filho de Caco e Magda. Depois da gravidez deMarisa, eles resolveram colocar um boneco moderníssimo para contracenar com os atores. Eles odiaram. Achavam que os controles não funcionavam direito e que a dublagem era péssima.Miguel brincava que Caquinho “era um boneco de vinil que não tinha pernas, falava com uma voz saída das profundezas, que com um ano de idade já tinha feito plástica, lipoaspiração e falava”.Substituíram o boneco pelo otimo Lucas Hornos. Aí o juiz Sírio Darlan surtou e quis holofotes, proibindo crianças de aparecer no horário nobre das emissoras. O Caquinho foi pra geladeira e logo os episódios passaram a ignorar a existência dele. Eu diria que esse é o meu único verdadeiro incômodo com a mitologia do programa.

- Na estreia da temporada 5, tentaram mudar o cenário do programa para um restaurante, mas a resposta da audiência foi péssima. Voltaram pro apartamento alguns episódios depois.

- Na estreia da terceira temporada eles fizeram um episódio ao vivo, mas o que foi reprisado foi uma gravação feita como teste, antes do evento. Quem não viu o ao vivo, não teve chances de ver de novo.

- O cabelo de Cassandra se tornou parte da mitologia na segunda temporada, quando a personagem se diz saída de uma noite mal dormida, e Caco começa a brincar com o fato de o penteado estar intacto.

- Há vários programas engavetados, que nunca foram ao ar por decisão da cúpula da Globo. Os motivos vão desde excesso de cacos e palavrões até falhas no roteiro.

Há muitas coisas e curiosidades sobre o Sai de Baixo que poderíamos destrinchar, mas isso precisaria ser dividido em muitas reviews. Pra terminar, eu vou indicar alguns episódios aqui pra vocês que considero como sínteses de um texto esperto, atuações insanas e muitos cacos e crises de riso. Mas são só alguns… Há muito mais nessas incríveis temporadas.

Primeira Temporada

Corra que o Tarado Vem Aí

Dona Caca Vem Aí

Damas de Paus

Choque Cultural

Túnel do Tempo

Segunda Temporada

Coelhos na Cartola

A Sacoleira do Arouche

Casando e Andando

Vidas Mal Passadas

Terceira Temporada

Simpatia é Quase Amor

A Travessura de Cassandra

O Casamento do meu melhor marido

Botando os bofes pra fora

Muito barulho por Magda

Quarta Temporada

Que Drag de Vida

Atração Fatal

A vaca vai pro brejo

Foge que o filho é teu

Quinta Temporada

Mamãezinha ferida (o episódio com a crise de riso por conta da estola de pêlos de Caca, que mencionei na outra review)

Toma que o pai é teu

Doméstica de Programa

Sexta Temporada

Minha vida de Cachorra

O homem que queria ser gay

Deus é Brasileiro

2020: Uma presepada no Arouche

O último golpe do Arouche

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